Header Ads

A agricultura pode ser regenerativa?

 

Fonte: TMF Fertilizantes



O termo "agricultura regenerativa" foi criado na década de 80 por Robert Rodale (fundador do Instituto Rodale), com o objetivo de melhorar a qualidade dos solos utilizando técnicas orgânicas. Segundo Rodale (2014), a agricultura regenerativa melhora os recursos ao invés de destruí-los ou esgotá-los, incentivando a inovação contínua na lavoura, com foco no bem-estar ambiental, social e econômico. A agricultura regenerativa é descrita por Rhodes (2017) como um processo que melhora a saúde do solo e restaura um ambiente altamente degradado, contribuindo para sua produtividade. 

Dessa forma, evita-se o esgotamento de recursos naturais (solo e água), criando um ambiente sustentável para o cultivo de alimentos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations) defende a prática da agricultura regenerativa, uma vez que esse sistema de princípios agrícolas reabilita todo o ecossistema e aprimora os recursos naturais. Ademais, afirma que há uma abordagem agroecossistêmica inclusiva para conservar a terra, o solo e a biodiversidade em todos os níveis, ao mesmo tempo em que melhora a eficiência do uso de insumos e os serviços dos sistemas agrícolas. Sendo assim, essa abordagem ajuda a alcançar a segurança alimentar e nutricional com opções economicamente viáveis e ecologicamente sustentáveis (PEARSON, 2007).

Segundo Alessandra Fajardo, responsável pelas Relações Institucionais para a América Latina da Bayer Crop Science; a agricultura, embora possa reduzir ou tornar neutras as emissões de gases do efeito estufa (GEE), pode valer-se da capacidade do solo para sequestrá-los da atmosfera. Ao aumentar esse potencial, o setor contribuirá de forma positiva com os nossos ecossistemas. Os efeitos podem ser amplos, porque o desafio de carbono da agricultura está integrado a outros desafios, como saúde, resiliência, equidade econômica, biodiversidade, desertificação e muito mais. Como não haverá uma única solução “fácil” para essa situação complexa, será necessário dispor de um conjunto completo de tecnologias e práticas conectadas. Teremos de conduzi-las e assegurar que estejam alinhadas com o nosso objetivo geral de transformação holística e positiva para a natureza.


Agricultura regenerativa fornece respostas


Nas esferas políticas do agronegócio, há uma discussão crescente sobre a visão nova da agricultura regenerativa para alcançar resultados positivos progressivos nos campos de cultivo, pastagens e florestas do mundo. Essa pode ser, antes de tudo, uma orientação para buscarmos um nível de ambição além do princípio da neutralidade, com a responsabilidade de continuarmos melhorando e fazendo mais com menos.

Há questões em aberto quanto à definição e à inclusão dos produtos e das técnicas na agricultura regenerativa. O elemento-chave está no consenso de enxergar o solo como um ponto central. Se mantido de forma adequada, possui riqueza orgânica ao combinar partículas minerais com plantas, fungos, minhocas, micróbios e outras espécies. Isso lhe confere resistência estrutural e o mantém fragmentado, com infiltração do ar e da água. Nesse estado, pode cumprir as suas diversas funções de armazenamento de água e nutrientes, apoio à fotossíntese das plantas e armazenamento de carbono. Fruto de uma natureza cíclica que favorece que as raízes de plantas saudáveis se rompam e lhe restaurem os nutrientes, a qualidade do solo pode melhorar a cada safra. Mas o inverso também pode ser verdade. Se não for bem mantido, haverá degradação ano após ano, com perda da biodiversidade.

A Universidade Wageningen, na Holanda, cita uma definição baseada na “melhoria do solo quanto à saúde, ao carbono, à qualidade física e à biodiversidade”. Podemos dividir isso com base num conjunto de resultados correlatos, como:

• máxima cobertura do solo;

• mínima perturbação do solo para manutenção do carbono sequestrado;

• rotação de culturas para manter o solo coberto;

• manutenção da raiz viva durante todo o ano;

• máxima diversidade de culturas;

• integração inteligente da pecuária.

 

O que diferencia e por que agora é a hora certa?


Esforços para se alcançar uma agricultura sustentável estão em andamento há anos e deram origem a diferentes escolas de pensamento. A chave da agricultura regenerativa concentra-se nos resultados relacionados com as práticas adotadas. Qualquer produto ou método agrícola pode ser incluído, desde que contribua para deixar saudáveis os solos, as plantas, os ecossistemas e as pessoas. Essa é uma grande mudança na ambição e no direcionamento dos nossos esforços. E, dito de forma simples, não era possível antes.

O sucesso de qualquer área depende de muitas variáveis: tipo de semente, produto e volume de proteção, cronograma das práticas agrícolas, dados e variações climáticas, pressão de pragas e doenças, entre outras. Do ponto de vista histórico, tem sido difícil comprovar de forma exata a causa de um determinado resultado no final da safra.

De qualquer forma, isso está mudando. A revolução digital chegou à agricultura, nos fornecendo uma grande quantidade de dados sobre os produtos e as práticas utilizadas pelos agricultores. Essas diferentes variáveis podem ser analisadas e resolvidas por soluções de inteligência artificial (IA). Assim, estamos conseguindo obter uma compreensão comprovada de como os métodos e os resultados estão ligados em diferentes culturas e campos de países.

Uma abordagem centrada nos resultados realmente funcionais mantém toda a tecnologia em jogo. Isso é importante para os agricultores, que já lidam com pressões das diferentes regulamentações de países e regiões. Como solução flexível e centrada no agricultor, a proteção sintética de culturas pode desempenhar, na agricultura regenerativa, dois papéis importantes ao mesmo tempo: (i) usar dados que possam ser manejados de forma dirigida com o menor impacto possível; e (ii) maximizar o uso de tecnologias biológicas com menores pressões ambientais.


Como podemos viabilizar o futuro?


A agricultura regenerativa possui particular importância na América Latina, uma região com enormes áreas potenciais de terras para aumentar a adoção de tecnologia agrícola, a produção e a exportação global de alimentos. Ali, muitas empresas dos setores de alimentos e agricultura estão investindo em iniciativas para promover modelos regenerativos de agricultura.

Os modelos aplicados nessa região, dominada por pequenos produtores, precisam funcionar no plano real para aqueles que os implementam. Há de se reconhecer a diferença entre cada campo e fazenda. Embora a melhoria da saúde do solo seja benéfica para todos, o modelo de implementação precisa incorporar benefícios específicos para os agricultores para:

• envolver o setor público, tornando mais fácil o acesso a inovações;

• prover acesso a soluções e mercados digitais;

• apoiar novas tecnologias e práticas com gerenciamento de longo prazo;

• possibilitar o aumento sustentável do rendimento e da lucratividade; e

• criar modelos novos de negócios.

Atualmente, apesar de serem remunerados pela quantidade que produzem, os agricultores fazem muito mais como administradores da terra ao cuidarem de saúde do solo, armazenamento e filtragem da água, melhoramento da biodiversidade, sequestro de carbono e apoio às comunidades. Quando reconhecemos e recompensamos esses resultados no longo prazo, podemos viabilizar uma verdadeira regeneração.

 

Leitura Complementar: Literatura Recomendada

 

Referências:


BAYER. Além de neutra em relação ao clima, a agricultura pode ser regenerativa. 2022. Disponível em: < https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/agroanalysis/article/download/88083/82817 >. Acesso em: 28 dez. 2022.

PEARSON, C.J. Regenerative, semiclosed systems: a priority for twenty-first-century agriculture. BioScience, v 57, pp 409-418, 2007.

RHODES, C. The Imperative for Regenerative Agriculture. Science Progress, v100, pp 80-129, 2017.

RODALE-INSTITUTE. Regenerative Organic Agriculture and Climate Change: A Down-to-Earth Solution to Global Warming. Kutztown, PA: Rodale Institute, 2014.

 

 





Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.