Você conhece o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC)?
Fonte: Brasil escola |
A
situação da agropecuária no âmbito global vem sofrendo alterações desde a Primeira
Revolução Agrícola, ocorrida entre os séculos XVI e XIX, quando mudanças como a
substituição de alqueive por pastagens artificiais culminaram no aumento da produtividade
nos países mais desenvolvidos. Na Segunda Revolução Agrícola, ocorrida ao longo
do século XX, inovações, como a mecanização e o uso de elementos químicos na
agricultura, surgem e antecedem inovações incrementais que quebraram paradigmas,
resultando assim na Terceira Revolução Industrial, que passou a ser conhecida com
a Revolução Verde (Mazoyer e Roudart, 2010).
Para Oliveira
et al. (2016), o modelo de produção implementado pela Revolução Verde passou a apresentar
sinais de esgotamento. Isso ocorreu a partir da década de 1970, quando foram identificados
problemas ambientais ocasionados pelo intensivo uso de agrotóxicos nas
atividades agrícolas por meio da destinação inadequada de dejetos industriais e
suas possíveis consequências negativas para a sobrevivência da população.
Segundo
Copobianco (1992), a intensificação da produção e do consumo despertou, na
década de 1970, vários estudos referentes à utilização dos recursos naturais,
da geração de resíduos e dos impactos causados ao ambiente pela utilização
desses recursos. Portanto, o tema sustentabilidade passou a ser o centro das discussões
no mundo, tornando-se a vertente de um novo paradigma de produção agropecuária
para o novo século. Acrescenta-se a isso uma preocupação com as questões
ambientais, principalmente em virtude das evidências de aquecimento global,
fenômeno este cada vez mais frequente, com cenários preocupantes tanto pela relevância
como pela velocidade de verificações de fenômenos climáticos extremos (Oliveira
et al., 2016). Destaca-se a intensa preocupação com as mudanças do clima no planeta,
principalmente devido às crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros
gases causadores do efeito estufa (GEE), como o óxido nitroso (N2O) e o metano (CH4)
(IPCC, 2007).
Para
Ramos et al. (2007) e Kimura e Santos (2016), é imprescindível a criação de
políticas agrícolas ou agroambientais que, além de amenizaremos impactos causados
pelo sistema de produção, como a diminuição do efeito das emissões de gases estufas,
possam fornecer condições de rentabilidade. Preocupado com as questões ambientais,
especialmente com o aquecimento global, o Brasil assumiu o compromisso de se desenvolver
com sustentabilidade, ou seja, utilizar os recursos disponíveis na natureza sem
degradá-la. Esse acordo consolidou-se em 2009, na COP-15 (Conferência das Partes),
órgão supremo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada
em Copenhague, quando o governo brasileiro assumiu o compromisso de reduzir de 36,1%
a 38,9% a emissão de Gases Efeito Estufa (GEEs) até o ano de 2020 (Oliveira et
al., 2016).
Esse compromisso
consolidou-se através da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC),
gerando o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para
a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, o
Plano ABC –Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Brasil, 2012). O Plano ABC
é formado por metas que visam ser atingidas dentro de sete programas, que,
juntos, possuem a finalidade de adotar tecnologias sustentáveis de produção e
contribuir de maneira efetiva para a redução da emissão de gases do efeito
estufa no setor agropecuário, procurando sempre promover o desenvolvimento de
maneira sustentável econômica, social e ambientalmente (CNA, 2012). Os sete
programas são:
- Recuperação de Pastagens Degradadas;
- Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e de
Sistemas Agroflorestais (SAFs);
- Sistema Plantio Direto (SPD);
- Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN);
- Florestas Plantadas; Tratamento de Dejetos Animais e Adaptação às Mudanças Climáticas (Brasil, 2012; Tritsch e Arvor, 2016).
Além
disto, o Plano envolve ações com capacitações de técnicos e agricultores,
linhas de investimentos, criação de banco de dados e índices de regulação das atividades,
pesquisa, entre outros (Newton et al., 2016; Liell et al., 2017). O Plano possui
abrangência nacional, entretanto, as práticas sustentáveis de baixa emissão de
GEE são desenvolvidas de acordo com o tipo de produção de cada região (Liell et
al., 2017). Neste sentido, espera-se que o estado de Mato Grosso, por se
destacar na produção agropecuária no país, receba atenção diferenciada pelo Plano
ABC, e que o mesmo assuma papel de liderança para a adoção desse programa (Arvor
et al., 2018).
Leitura
Complementar: Literatura
Recomendada
Referências:
ARVOR,
D., DAUGEARD, M., TRITSCH, I., DE MELLO-THERY, N. A., THERY, H., DUBREUIL, V. (2018).
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