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Desenvolvimento tecnológico no campo: uma visão sociológica

Fonte: Coperama

 

Intervenções estatais ocorreram na agropecuária brasileira, principalmente, a partir da década de 1930, com o desfalque nas exportações de café, quando o governo brasileiro elaborou uma política de substituição de importações, via estímulo à industrialização interna (FURTADO, 1963). Com a tendência crescente à urbanização e o contínuo crescimento dos sistemas industriais e de serviços – gerando uma demanda elevada por alimentos –, logo foram desencadeadas algumas crises no abastecimento dos grandes centros. Nesse contexto, visualizando o problema da falta de alimentos é que o governo se volta mais intensamente para a pesquisa e a extensão rural no país. Não há como negar, entretanto, que nesse contexto de investimento no desenvolvimento, o Estado sempre privilegiou aquelas categorias − principalmente, na agricultura − que mais pudessem contribuir, de imediato, para salvaguardar o país das crises pelas quais este passou.

Com isso, na concepção de Carvalho (1992), fica fácil concluir que a pesquisa agrícola brasileira foi estimulada mais para atender às necessidades dos grandes produtores de culturas de exportação do que às necessidades ou aos interesses de pequenos e médios produtores de culturas alimentares e seus consumidores. Somente mais tarde, com o desenvolvimento tecnológico das grandes propriedades e com a constatação de que a pequena agricultura, em grande parte, era a responsável pelo abastecimento do mercado interno, é que se destinou atenção especial a este ramo de atividade. Nesse ínterim, já se tornara predominante no âmbito dos estudos sobre a propriedade rural, o entendimento de que a “agricultura modernizada” estava ligada aos complexos agroindustriais e a “agricultura tradicional” àquela praticada de forma rudimentar.

Fica fácil visualizar que as características da pequena agricultura se assentavam nos aspectos mais tradicionais, devido à marginalização, por parte do Estado, dos problemas desses pequenos produtores. Nesse contexto, com o desenvolvimento da grande propriedade rural − cujo foco eram os produtos de exportação − e visualizando a opressão do mercado sobre essa agricultura tradicional, é que o Estado, através dos institutos de pesquisa, voltou-se mais intensamente para o problema da pequena propriedade rural. A intenção era “modernizar” a pequena propriedade, possibilitando-lhe concorrer no mercado interno, o que dirimia, em grande parte, a exclusão e a pauperização desses pequenos produtores. 

Esse processo de modernização da pequena agricultura sempre foi um dos problemas centrais nos estudos da área de sociologia rural, pois o impacto da mudança, num curto espaço de tempo, de uma agricultura tradicional para uma agricultura modernizada, refletia muito da resistência de vários pequenos produtores às mudanças propostas. Nesse contexto, vários autores, como Freire (1977), constatando a ineficácia do processo de transferência de tecnologia aos pequenos produtores, discutiam formas diferentes de realizar essa transferência, que até então era realizada nos pressupostos daquilo que Carvalho (1992) chamou de “modelo concentrado”. O que guiava as iniciativas de desenvolvimento nessa concepção do modelo concentrado partia da constatação de que os produtores não possuíam visão crítica, muito menos capacidade de optar pela melhor tecnologia a ser adotada, por falta de conhecimentos.

Assim, modernizar a pequena propriedade se tornava um problema, devido às manifestações de resistência e pouca adotabilidade, pelos pequenos produtores, de novos métodos de produção e novas variedades de culturas mais adaptadas à sua região. As propostas sugeridas (principalmente, por sociólogos rurais) consideravam desde a questão da “ignorância” do pequeno produtor sobre as novas tecnologias até a questão do “desinteresse” deles em adotar tais tecnologias, o que implicaria diferentes métodos de intervenção. O que se observa ainda hoje é uma resistência dos pequenos produtores a mudanças no processo de produção que desenvolveram ao longo de sua história de trabalho com a terra. Isso revela que a problemática do desenvolvimento da pequena propriedade vai além de fatores como “ignorância” ou “desinteresse”. Na verdade, diz respeito a um tema pouco explorado pelos sociólogos rurais, que é a identidade do pequeno produtor. Portanto, ter um entendimento mais aprofundado dos fatores determinantes dessa resistência implica observar o processo de desenvolvimento rural a partir do impacto que este exerce na subjetividade desse pequeno produtor e de como tal subjetividade impacta esse processo.

Como um dos componentes da complexa subjetividade do sujeito, a identidade possibilita a esse sujeito a sensação de continuidade no contexto social. É ela que lhe dá impressão de ser quem sempre foi mesmohttps://agrirobotic.blogspot.com/p/literatura.html passando por várias mudanças durante sua história de vida. Além disso, a identidade está relacionada com a questão da diferença, pois é ela que particulariza os indivíduos, distinguindo-os no contexto social.


Leitura Complementar: Literatura Recomendada

 

Referências: 

CARVALHO, João Carlos M. O desenvolvimento da agropecuária brasileira. Brasília, DF: Embrapa, 1992. 171p.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Tradução: Rosisca Darcy de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Cultura, 1963.

MENDES, L.; ICHIKAWA, E. Y. O desenvolvimento tecnológico e o pequeno produtor rural: construção, desconstrução ou manutenção da sua identidade? Disponível em: <  https://www.scielo.br/j/cebape/a/YN5D3MQTfZwDTgfB6g5QZzF/?format=pdf&lang=pt >. Acesso: 19 nov. 2021.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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